Por Ariádini Santos, escritora.
Leitores deveriam cultivar o hábito de compartilhar suas leituras, espalhar por aí experiências literárias, dividir o prazer de ler um bom livro, para que se somem mais leitores, mais gente embebecendo-se de arte, da boa arte. A arte provoca isso, traz consigo seu cunho democrático, ela quer ser vista, lida, ouvida, tocada, experimentada, e quanto mais gente, melhor. Faço aqui minha parte. Compartilho com vocês minha leitura mais recente: O mercador de livros, de Roberto Martins.
Primeiro, declaro que o que vou escrever, por mais que me esforce, ainda deixará somente dentro de mim muito do que tenho a dizer sobre a história que Roberto nos trouxe. Do Golfo Árabe ao extremo-sul baiano, com passagem por Alexandria e Recife, a região cacaueira, a exploração da madeira, tudo isso e muito mais encaixado ali no meio de uma vida de luta e de uma curiosa missão.
Almasor, nosso protagonista, diante de um vendedor de livro que nele encontra um promissor cliente, conta a história de sua vida e de seus antepassados. Enquanto compõe uma vasta biblioteca, suas memórias o remetem à promessa feita ao pai em seu leito de morte: amar os livros, juntar cinco mil metros de livros e difundir o conhecimento.
Tanto me encantou a presença do historiador Roberto, quanto me surpreendeu a história dentro da História. As vivências de Almasor conduzem o leitor a espaços e culturas diversas, provocam reflexão sobre a relatividade do que se pode considerar ético, e que não há falta de ética quando o instinto de sobrevivência se faz urgente. Sobreviveu às tantas adversidades em busca da vitória, a que foi predestinado desde o batismo, para viver cultuando a arte.
Erudito e leve, O mercador de livros é leitura indispensável para todos que apreciam uma boa e bem escrita história, daquelas que despertam em quem lê o desejo de tomar um cafezinho com o personagem, sentir que ele existe, desejar que ele exista. Gostei de saber por que os árabes são chamados de turcos, anotei que preciso ler um conto de certo escritor do Romantismo francês, viajei do Império Otomano às margens do Jequitinhonha, me embebeci de Almasor e de seus livros.
O mercador de livros é leitura indispensável, deve correr mundo, correr escolas. É uma homenagem à literatura, à arte. E para torná-lo ainda mais especial, vem com um surpreendente desfecho. Se ele conseguiu juntar os cinco mil metros de livros? Ah, caro leitor! Esse mistério deixo no ar. Leiam! O prazer é garantia “da casa”.
Ao autor, minha deferência: Roberto Martins se superou como narrador de ficção.
