Cada geração filosófica articula uma consciência de si que a define. A minha geração tem em Auterives Maciel Júnior uma figura emblemática pela clareza na exposição dos conceitos, pela erudição e pela potência de pensamento.
Quanto ao livro O Todo-Aberto, considero uma obra ímpar na sutileza de construção conceitual e na sua sistematização rigorosa. Este livro parte de uma questão contemporânea: a ruptura de Bergson com a compreensão dedutiva ou descritiva do todo ou do absoluto como um dado. A tese de Bergson, aqui explorada, equacionou a ideia de ser à ideia de tempo: o todo temporal é aberto.
O Todo-Aberto é, entre outras coisas, um complexo estudo da subjetividade. A partir de Bergson, Auterives chega, através do movimento evolutivo, ao momento em que a vida humana perde o seu alento criador, tornamo-nos autômatos conscientes, submetidos à regularidade dos hábitos (sensório-motores). Somos impedidos de agir livremente na medida em que um sistema de sociedades fechadas se opõe a toda forma de expressão. Ser livre, antes de ser uma liberdade de ação, é conquistar uma liberdade de expressão e de criação.
O ponto de partida de Bergson é como a evolução criadora se produz em nós em cada momento da duração. E, junto com Deleuze, Maciel Júnior pretende passar da observação da evolução criadora em nós para uma evolução criadora fora de nós.
Para Auterives, tendo o afeto como condicionante, o grande problema é chegar a uma vivência do todo enquanto duração. Neste livro, as noções bergsonianas de afeto e de emoção temporal permitem uma instigante teoria da liberdade.
Mário Bruno
Professor da UERJ e da UFF, Doutor em teoria psicanalítica pela UFRJ. Pós-Doutor em filosofia pela UFRJ